Publicado por Rafael Resende
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Acupuntura ajuda na depressão?

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O uso de terapias integrativas e complementares, como a Acupuntura, é comum no tratamento da depressão. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pesquisa viu que 50% das pessoas que disseram ter depressão fizeram uso de alguma dessas terapias nos doze meses anteriores à pesquisa. Entre os que também estavam em um tratamento convencional (por exemplo, tomando antidepressivos), esse número subia para quase 65%.

Sabe-se que o tratamento inicial para a depressão é frequentemente malsucedido. Uma das principais pesquisas sobre o tema encontrou uma taxa de remissão (isto é, melhora completa dos sintomas) de apenas 33% após o primeiro tratamento. Como resultado, cada vez mais estudos têm sido feitos sobre as terapias integrativas e complementares. Neste artigo, vamos conversar sobre o que eles trazem a respeito do uso da Acupuntura na depressão.

De acordo com o Centro Nacional de Saúde Integrativa e Complementar (NCCIH, na sigla em inglês), órgão do governo dos Estados Unidos, existem algumas evidências de que a Acupuntura produz uma redução modesta nos sintomas de depressão, principalmente quando comparada à ausência de tratamento ou ao que se chama, nos estudos, de Acupuntura sham, que pode ser entendida como "falsa Acupuntura". Nela, as agulhas são inseridas fora dos pontos tradicionais de Acupuntura ou de forma a não provocar o pequeno "choque" necessário para que seja efetiva.

O NCCIH cita um trabalho de 2018, da Cochrane (a Cochrane é uma rede mundial de pesquisadores que revisam boa parte da literatura científica disponível sobre um determinado assunto). Esse trabalho trouxe que a Acupuntura pode levar a uma redução moderada na gravidade da depressão, mas não se pode fazer uma recomendação definitiva porque os estudos disponíveis são de baixa qualidade.

O NCCIH cita também dois estudos, ambos de 2019. O primeiro concluiu que a Acupuntura é eficaz para o tratamento da depressão pós-AVC, que se refere aos quadros depressivos que acometem pessoas que tiveram um acidente vascular cerebral, ou AVC. O segundo mostrou que a Acupuntura pode ser adequada como um auxiliar no tratamento usual da depressão, como uso de antidepressivos. No entanto, ele também chama a atenção para o fato que as conclusões podem estar enviesadas.

Na mesma linha deste último estudo, duas pesquisas, de 2009 e 2013, viram que a associação de Acupuntura com dois antidepressivos (fluoxetina ou paroxetina) por seis semanas melhorou a resposta ao tratamento, em comparação com o uso do antidepressivo sozinho, pelo mesmo tempo. No entanto, não houve diferença no número de pessoas que tiveram melhora completa dos sintomas, quando se associava a Acupuntura ao uso da paroxetina. Ambas as pesquisas observam que a qualidade dessas evidências científicas é baixa.

Para mulheres grávidas com depressão leve a moderada que não tiveram melhora  com os tratamentos convencionais, a associação desses tratamentos com a Acupuntura pode ser eficaz. Ela também é uma opção para as gestantes com quadros depressivos leves. É o que sugerem dois estudos, um de 2004 e outro de 2010, que compararam a Acupuntura específica para a depressão (que usa pontos apropriados para o padrão de desarmonia da Medicina Tradicional Chinesa correspondente ao diagnóstico ocidental de depressão) com a Acupuntura não específica para a depressão. Essas conclusões são importantes, considerando os riscos associados ao uso de antidepressivos na gravidez.

Além do possível efeito na melhora da depressão, muitos estudos têm buscado avaliar o benefício da Acupuntura em relação aos efeitos adversos dos tratamentos convencionais. Em 2009, um trabalho de qualidade moderada mostrou que o risco de efeitos adversos com o uso de antidepressivos é maior do que com a Acupuntura isoladamente. Por outro lado, segundo um trabalho de 2009, quando usados em conjunto, não há diferença nas taxas de efeitos adversos ou de abandono do tratamento, em relação ao uso de antidepressivo apenas.

O texto do NCCIH, que citamos acima, traz que a Acupuntura é uma prática segura, com poucas complicações. Quando acontecem, elas comumente são resultado de má prática. Daí a importância de se procurar um profissional qualificado.

Ao longo do texto, pudemos ver que os estudos que avaliaram o uso da Acupuntura na depressão são de baixa qualidade, no geral. Um dos motivos é o fato de a maioria deles ter sido conduzida na China, onde a Acupuntura é mais comumente aceita e existe uma expectativa de que as pesquisas a mostrem como um tratamento eficaz.

Em resumo, a Acupuntura pode reduzir a gravidade da depressão e os efeitos adversos associados ao tratamento com antidepressivos, mas como as evidências científicas disponíveis a respeito são, em geral, de baixa qualidade, são necessários mais estudos para tecermos conclusões definitivas. Por outro lado, no caso da depressão em pessoas que tiveram AVC ou nas gestantes, a Acupuntura já tem eficácia comprovada nas pesquisas e é uma forma de tratamento a ser considerada e discutida com o médico psiquiatra.

Autor

Dr Rafael de Castro Resende

Dr Rafael de Castro Resende

Acupunturista, Psiquiatra

Especialização em Residência Médica em Psiquiatria no(a) Hospital Ulysses Pernambucano - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco).