Publicado por Rafael Resende
Gostou do artigo? Compartilhe!

Sono excessivo: o que pode ser?

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

As queixas de sono excessivo durante o dia, cansaço, fadiga e falta de energia estão entre as mais comuns nos consultórios médicos. Falamos que a sonolência diurna é excessiva quando afeta a qualidade de vida, os relacionamentos, a concentração, a produtividade ou o humor, o que pode, inclusive, trazer riscos à nossa segurança ao dirigir ou operar máquinas. Ela pode ser sinal de um transtorno do sono ou de alguma outra condição médica tratável, mas ainda não diagnosticada.

Sonolência diurna excessiva e fadiga não são a mesma coisa. Segundo a Classificação Internacional de Transtornos do Sono (você pode ver uma tabela resumida aqui, na página 2), a sonolência diurna excessiva envolve dormir de forma não intencional, ou em momentos inapropriados, quase diariamente, por no mínimo três meses. Já a fadiga seria uma sensação subjetiva de falta de energia física ou mental, que pode trazer dificuldades para iniciar ou manter uma determinada atividade (fácil fatigabilidade) ou comprometer a concentração, memória ou estabilidade emocional (fadiga mental). Apesar das diferenças, sonolência diurna excessiva e fadiga frequentemente se sobrepõem.

A sonolência diurna excessiva é relatada por 10-25% da população. Não há consenso sobre em que idade ou gênero ela seria mais comum. Alguns estudos mostram que ela aumenta com a idade, enquanto outros viram que ela diminui. Em relação ao gênero, a maioria das pesquisas relata ou uma prevalência igual em homens e mulheres, ou um acometimento duas vezes maior no sexo feminino. Seus principais fatores de risco são insônia e tabagismo; outros fatores associados são ansiedade, depressão, roncos e obesidade.

 

Causas de sonolência diurna excessiva

As causas de sonolência diurna excessiva são muitas, e várias delas podem estar associadas no mesmo paciente. Em geral, podemos dividi-las em quatro grupos: sono insuficiente, transtornos do sono, condições médicas (incluindo os transtornos psiquiátricos) ou uso de certas medicações.

O sono insuficiente pode decorrer da decisão da própria pessoa ou de alguma obrigação social, como no caso dos trabalhadores noturnos. Também pode ser resultado de alguma condição subjacente, como depressão, doenças físicas ou dor. Além disso, certas medicações e drogas de abuso podem diminuir a quantidade ou qualidade do sono. Na maior parte das vezes, o sono insuficiente está relacionado a maus hábitos de sono (leia mais aqui).

Os transtornos do sono são uma categoria ampla e incluem os transtornos respiratórios relacionados ao sono, os transtornos do sono do ritmo circadiano, os transtornos do movimento relacionados ao sono e as hipersonias de origem central. Dos transtornos respiratórios relacionados ao sono, o mais conhecido é a apneia obstrutiva do sono, que deve ser suspeitada em caso de roncos altos ou frequentes e de apneias (períodos de parada da respiração) testemunhadas por outras pessoas.

Entre os transtornos do sono do ritmo circadiano, estão o jet lag (relacionado à dessincronização entre o nosso relógio biológico e a hora local que ocorre quando viajamos entre diferentes fusos horários) e os transtornos tipo fase do sono atrasada e adiantada. Nesses dois transtornos, o relógio biológico dura mais que 24 horas, e a pessoa fica acordada até tarde (fase atrasada) ou o contrário (fase adiantada).

Os transtornos do movimento relacionados ao sono incluem a síndrome das pernas inquietas, que se caracteriza por um desconforto nos membros inferiores (normalmente descrito como um “formigamento”) e pela necessidade irresistível de movê-los que aparecem no repouso (como quando se tenta dormir), pioram à noite e são aliviados pelo movimento. Também nesse grupo está o transtorno do movimento periódico dos membros, que pode estar presente quando o parceiro ou parceira se queixam de que o paciente move muito os membros (ou “chuta”) durante o sono.

As hipersonias de origem central são condições em que a sonolência diurna excessiva não se deve a alteração da quantidade ou qualidade do sono ou a dessincronização do relógio biológico. A mais importante é a narcolepsia, em que a pessoa pode se sente muito sonolenta durante o dia e pode cair no sono durante atividades normais, de forma abrupta (o que chamamos de “ataque de sono”).

A insônia também é considerada um transtorno do sono e pode estar associada à sonolência diurna excessiva, mas é mais comum que leve à fadiga. De fato, pessoas com insônia têm mais dificuldade em cochilar ou dormir ao longo do dia.

Em relação às condições médicas, hipotireoidismo, obesidade e doenças neurológicas como doença de Parkinson e esclerose múltipla estão entre as que podem estar associadas à sonolência diurna excessiva. Além delas, também podemos listar transtornos psiquiátricos como ansiedade e depressão (em especial a depressão atípica e a depressão no transtorno afetivo bipolar).

Finalmente, várias medicações e drogas de abuso podem causar ou contribuir para a sonolência diurna excessiva. Entre as medicações, estão os benzodiazepínicos e outros sedativos, alguns antialérgicos, anticonvulsivantes, analgésicos opioides (como o tramadol) e alguns antidepressivos e antipsicóticos. Consumo de álcool e narcóticos e interrupção do uso de estimulantes também podem levar ao quadro.

Em todos os casos, a percepção de sonolência diurna excessiva deve ser avaliada por um médico, para que sua causa seja identificada corretamente. É a partir desse diagnóstico que será definido o melhor tratamento, de modo a recuperar a qualidade de vida.

Autor

Dr Rafael de Castro Resende

Dr Rafael de Castro Resende

Acupunturista, Psiquiatra

Especialização em Residência Médica em Psiquiatria no(a) Hospital Ulysses Pernambucano - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco).