Publicado por Rafael Resende
Gostou do artigo? Compartilhe!

Afinal, o que é Acupuntura?

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

A palavra acupuntura vem do latim acus (agulha) e punctura (penetração). É uma das práticas médicas mais antigas do mundo, tendo surgido na China há cerca de 2000 anos.

Seu desenvolvimento coincidiu com o crescimento das duas principais filosofias chinesas, o Confucionismo e Taoísmo, que enfatizam a importância de se entender as leis da natureza e de os seres humanos se integrarem e se conformarem a elas. Nessas filosofias, o corpo humano é visto como um reflexo microcósmico do universo.

Em virtude dessa relação com o Confucionismo e o Taoísmo, os conceitos usados para explicar a natureza (como o Yin/Yang e os Cinco Elementos) são centrais para a Acupuntura, e seu objetivo é manter ou restabelecer a harmonia do corpo tanto internamente como em relação ao mundo exterior. O pensamento oriental entende a natureza como algo dinâmico e interconectado, de modo que, para o médico acupunturista, não faz sentido considerar isoladamente um sintoma, como dor lombar. Cada sintoma surge a partir de um contexto particular. Assim, os tratamentos em Acupuntura são individualizados, centrados na pessoa e não em sua doença, de tal forma que dois pacientes com os mesmos problemas de saúde podem receber tratamentos distintos, e o mesmo paciente pode ser tratado com uma diferente combinação de pontos de Acupuntura entre duas sessões consecutivas. Dito de outra forma, a Acupuntura não se propõe a tratar, por exemplo, a ansiedade de uma pessoa, mas sim a pessoa com ansiedade.

 

Principais conceitos na Acupuntura

Três conceitos são centrais na Acupuntura: Qi, Yin/Yang e os Cinco Elementos. O médico acupunturista baseia-se neles para estabelecer um diagnóstico e escolher o melhor tratamento, de forma a restabelecer o equilíbrio.

O Qi pode ser entendido como “energia vital”, que circula pelos meridianos do corpo (os meridianos são canais que conectam os pontos de Acupuntura e estão associados aos nossos órgãos internos). Ele representa o somatório de todas as forças impulsionadoras das funções do nosso organismo.

Yin/Yang são opostos complementares que descrevem todas as coisas na natureza. O Yin se refere aos aspectos materiais e densos das coisas, e o Yang representa seus aspectos imateriais e rarefeitos. Os dois opostos interagem de forma dinâmica e cíclica, e essa interação se reflete em nossa saúde, que é entendida pelo pensamento oriental como um estado de equilíbrio dinâmico.

Os Cinco Elementos formam a base teórica da Medicina Chinesa, junto com Yin/Yang. São eles o fogo, a terra, o metal, a água e a madeira. Cada órgão e víscera, cada órgão dos sentidos e cada emoção básica está associada a um dos cinco elementos, fornecendo uma descrição global do equilíbrio dinâmico (ou desequilíbrio) de cada pessoa.

 

A consulta em Acupuntura

O tratamento em Acupuntura começa com a identificação do padrão de desarmonia do paciente. A avaliação tem quatro pilares: interrogatório sintomatológico (entrevista feita com o paciente), inspeção, ausculta e palpação. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, praticamente tudo (a pele, os odores, os sons, o estado mental, os gostos, as emoções, o comportamento e a constituição corporal) reflete o estado dos órgãos internos e pode ser usado no diagnóstico, sendo a inspeção da língua e a palpação do pulso especialmente importantes.

Uma vez identificado o padrão de desarmonia, finas agulhas de metal são inseridas em pontos precisos do corpo para corrigir os desequilíbrios. A teoria clássica reconhece 365 pontos, localizados em 14 meridianos principais. Como já dito, cada meridiano está associado a um órgão interno, embora sem a relação anatômica a que a Medicina Ocidental está acostumada.

Em uma sessão típica, são usadas cerca de cinco a vinte agulhas. A inserção das agulhas não dói, ou dói muito pouco, e precisa provocar um pequeno "choque" para ser efetiva. Depois de inseridas, as agulhas são deixadas por dez a quinze minutos e manipuladas de tempos em tempos pelo médico acupunturista. O cuidado em Acupuntura envolve também aconselhamento sobre alimentação, atividade física e saúde mental. As sessões ocorrem entre uma e duas vezes por semana, e o número total de sessões é variável, dependendo da condição, gravidade e cronicidade do quadro.

Um ponto interessante é que a própria experiência de Acupuntura pode ser terapêutica. Como o paciente permanece deitado, durante o tempo em que as agulhas são deixadas na pele, e convidado a descansar, pode ser evocada uma sensação de relaxamento e tranquilidade.

 

Aplicações clínicas da Acupuntura

No mundo ocidental, para que um tratamento seja recomendado, ele deve ter sua eficácia comprovada por pesquisas em que, basicamente, um grupo de pessoas com determinada doença recebe o tratamento que se quer testar, e um outro grupo não recebe nenhum tratamento. Esse modelo de pesquisa, no entanto, é pouco apropriado para estudar a eficácia da Acupuntura.

Um dos motivos é que as doenças definidas segundo a Medicina Ocidental não têm equivalentes claros na Medicina Tradicional Chinesa, de tal forma que uma mesma doença pode corresponder a vários padrões de desarmonia. A depressão, por exemplo, pode ser descrita como “estagnação do fígado”, “fogo do fígado” e “deficiência do coração e baço-pâncreas”.

Outro motivo é que os estudos ocidentais avaliam tratamentos padronizados. Assim, todas as pessoas do grupo que receberá o tratamento em teste devem receber exatamente o mesmo tratamento. Como a abordagem da Acupuntura é individualizada, uma mesma combinação de pontos pode não ser aplicável para dois pacientes com o mesmo problema de saúde.

Dessa forma, a Acupuntura não tem tantas aplicações clínicas na Medicina Ocidental, embora seja usada pela Medicina Tradicional Chinesa em uma grande variedade de condições. Ainda assim, para algumas doenças, ela é um procedimento indicado e tem eficácia comprovada por estudos que a avaliaram sob a ótica da Medicina Ocidental. Entre elas, podemos citar dor lombar crônica, fibromialgia, dor em pessoas com câncer, náuseas e vômitos (inclusive os relacionados ao pós-operatório de cirurgias diversas e à quimioterapia), enxaqueca e cefaleia tensional, rinite alérgica e controle dos fogachos ("calorões") associados à menopausa.

______________________________

Espero que esse texto tenha esclarecido algumas dúvidas. Se quiser conversar um pouco mais sobre Acupuntura ou Medicina Tradicional Chinesa, deixe um comentário ou envie uma mensagem!

Autor

Dr Rafael de Castro Resende

Dr Rafael de Castro Resende

Acupunturista, Psiquiatra

Especialização em Residência Médica em Psiquiatria no(a) Hospital Ulysses Pernambucano - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco).