Publicado por Rafael Resende
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Acupuntura é bom para ansiedade?

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Pesquisas sugerem que 1 a 30% da população mundial sofre de alguma forma de ansiedade. Há 13 diferentes subtipos de transtornos de ansiedade listados na última edição do Manual Diagnóstico e Estatístico (DSM-5, na sigla em inglês), usado por profissionais médicos para uniformizar e facilitar a comunicação sobre as condições psiquiátricas. A forma de manifestação desses subtipos varia bastante, em virtude das várias possibilidades de combinação de sintomas físicos e psíquicos. Desde falta de ar e taquicardia a ataques de pânico francos e debilitantes, a ansiedade é uma condição complexa e que se estende por diversos aspectos da vida de quem sofre com ela, e muitas vezes requer o uso de medicações.

Evidências científicas recentes sugerem que a Acupuntura também pode ser usada no tratamento dos transtornos de ansiedade. Em 2017, foi publicado um projeto que revisou, de forma comparativa, diversos estudos com Acupuntura. A conclusão é que ela é moderadamente efetiva no tratamento da ansiedade, de acordo com evidências científicas de alta qualidade.

Mas qual é o mecanismo bioquímico pelo qual a Acupuntura poderia agir na ansiedade? Para entendermos isso, é preciso falar primeiro do sistema nervoso autônomo, que regula nosso organismo de modo a garantir a homeostase, isto é, o equilíbrio interno necessário para a manutenção da vida. Ele recebe informações do ambiente externo e interno (ou seja, o próprio corpo) e produz uma resposta através dos seus dois componentes: o sistema nervoso simpático, que leva a respostas de ativação ou excitação, e o sistema nervoso parassimpático, que leva a respostas de relaxamento. Essas respostas direcionam o organismo a reagir de diferentes maneiras, como aumento ou diminuição da frequência cardíaca, da força de contração dos músculos ou da pressão arterial.

Estudos mostram que a Acupuntura tem um efeito tanto no sistema nervoso simpático como no parassimpático, e o exemplo a seguir deixa isso mais claro. Uma das medidas mais sensíveis da capacidade do nosso organismo de lidar com o estresse é algo chamado de variabilidade da frequência cardíaca. Em vez de bater sempre no mesmo ritmo, o coração, na verdade, altera a frequência de seus batimentos com base em ajustes finos feitos em resposta a mudanças do ambiente (interno ou externo). Uma grande variabilidade da frequência cardíaca está associada a melhor saúde, o que implica em menores níveis de ansiedade. E a Acupuntura, justamente, pode regular essa variabilidade, melhorando nossa capacidade de lidar com o estresse.

Além disso, quando nosso organismo está sob estresse, uma área do cérebro chamada hipotálamo é ativada, e a Acupuntura pode controlar essa resposta. Ela também possui efeito sobre a liberação de endorfinas, substâncias encontradas naturalmente no nosso corpo e relacionadas à sensação de prazer. As endorfinas cumprem um papel importante na regulação das nossas respostas ao estresse físico e emocional, que envolvem, por exemplo, a sensação de dor e a função digestiva. Todos esses mecanismos da Acupuntura têm um efeito direto na redução da ansiedade.

Finalmente, é preciso levar em consideração que cerca de metade dos pacientes com transtornos de ansiedade e tratados somente com medicação tem uma resposta inadequada, ou seja, os sintomas não são aliviados de forma clinicamente significativa. Muitos também desenvolvem efeitos adversos importantes. Nesse contexto, a Acupuntura pode representar um aliado terapêutico bastante útil e deve ser uma opção a ser discutida com o Psiquiatra.

Autor

Dr Rafael de Castro Resende

Dr Rafael de Castro Resende

Acupunturista, Psiquiatra

Especialização em Residência Médica em Psiquiatria no(a) Hospital Ulysses Pernambucano - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco).