Publicado por Rafael Resende
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Cuidando de um filho quando se tem ansiedade

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Ser mãe ou pai pode se tornar desafiador para quem sofre com algum transtorno de ansiedade. Além das preocupações com o trabalho, com os estudos e com a vida em sociedade, vem a carga de responsabilidades que cuidar de uma criança exige. Algumas pessoas podem se sentir sempre à beira de uma nova crise diante das demandas constantes de seus filhos. Não conseguimos eliminar completamente a ansiedade que a maternidade e a paternidade nos trazem, mas é possível aprender estratégias para lidar com ela de uma forma mais saudável.

 

Aceite suas limitações

É fundamental reconhecer e estabelecer os próprios limites, estando atento a quando chegamos perto deles. Isso significa perceber os sinais que nosso corpo dá, como fadiga, irritação, raiva e preocupação excessiva, e não exigir de si mesmo mais do que é possível suportar. Dessa forma, também conseguimos aproveitar de fato e buscar prazer no que estamos fazendo em determinado instante – como dar banho, brincar, pôr para dormir. Estabelecer limites não é sinal de fraqueza e sim uma forma de autocuidado, que nos possibilita cuidar melhor do outro.

 

Encontre sua paz

Crianças fazem barulho (com raras exceções, que eu mesmo não conheço :-). Quando se sofre com algum transtorno de ansiedade, o ruído constante e a agitação ao redor podem facilmente se tornar um gatilho para uma nova crise. Inclua algo em sua rotina que traga uma sensação de paz – seja leitura, artesanato, música ou um bom banho, reserve um tempo para isso todos os dias, ou sempre que puder.

 

Inclua sua parceria

Dor compartilhada é dor dividida, certo? Se sua parceira ou parceiro sabe quando você está com dificuldades, ela ou ele terá a oportunidade de oferecer apoio. Agir dessa forma é sem dúvidas mais saudável que se irritar com o outro em um momento de crise, o que pode acabar sendo levado para o lado pessoal (e não entendido como fruto de um adoecimento).

Também é importante ser franco sobre quais são os gatilhos para uma crise e como eles se manifestam antes de ela acontecer de fato. Conversar com a parceria sobre isso nos ajuda a ter consciência de nós mesmos. Em alguns casos, é até mesmo possível prevenir uma crise com esse apoio, que pode vir na forma de lembretes para usar estratégias de enfrentamento como respiração profunda, meditação ou relaxamento muscular progressivo.

 

Deixe outras pessoas ajudarem você

Algumas mães e alguns pais podem se sentir culpados por deixar os filhos na creche ou pré-escola, por exemplo. No entanto, isso é com frequência necessário por diversos motivos, seja para poder trabalhar e garantir o conforto da família, seja como uma forma de reconhecer e estabelecer os próprios limites, como falamos acima. Além disso, os filhos podem se beneficiar da mudança de ambiente e do contato com outras crianças.

 

Seja menos duro com você

A ansiedade é confusa. Ter filhos é confuso. Tentar ser perfeita ou perfeito nessas duas situações consome muito da nossa energia. Com frequência, não conseguimos atender às nossas próprias expectativas, e está tudo bem. Seus filhos não vão se lembrar se você não fez o jantar perfeito digno de uma postagem nas redes sociais. Eles vão sim se lembrar da sua presença à mesa, mesmo que a comida seja o básico de todos os dias.

 

Use medicação, se indicado

Tomar remédio também não é um sinal de fraqueza. Se o profissional da saúde que te acompanha sugere seu uso, é importante considerá-lo. Alguns dizem que quem usa medicação é “louco”; outros, que esse é o “caminho mais fácil”, e nenhum deles tem razão. Tomar um remédio apenas significa que se tem uma condição de saúde que requer essa forma de tratamento, como ocorre com diversas outras doenças. Ninguém se sente culpado por tomar antibiótico para uma infecção – e o mesmo deve acontecer para quem usa uma medicação psiquiátrica.

 

Aceite os dias em que a ansiedade vier

Há dias em que nenhuma meditação, respiração profunda, momento de autocuidado ou atividade prazerosa vão nos tirar da espiral da ansiedade. Quando isso acontece, tudo que podemos fazer é aceitar e evitar julgamentos. Afinal, os transtornos de ansiedade também são um adoecimento e, assim, não estão totalmente sob nosso controle. Talvez seja a hora de rever o tratamento e conversar a respeito com o profissional de saúde que acompanha você.

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Conviver com um transtorno de ansiedade e ter filhos não são coisas incompatíveis, especialmente se temos as ferramentas e estratégias para lidar com essa nova fase da vida. Aprender a lidar com o caos que a maternidade e a paternidade trazem é um desafio, mas é a chave para uma vida saudável. Com tempo e prática, o que parecia assustador vai se tornando natural, e exercitar o autocuidado pode ser a maior herança que deixaremos para os nossos filhos.

Autor

Dr Rafael de Castro Resende

Dr Rafael de Castro Resende

Acupunturista, Psiquiatra

Especialização em Residência Médica em Psiquiatria no(a) Hospital Ulysses Pernambucano - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco).