Publicado por Rafael Resende
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Antes de tomar um antidepressivo, leia isto

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Os antidepressivos são uma das classes de medicamentos mais usadas no mundo. Apesar do nome, eles são úteis não só no tratamento da depressão, mas também nos transtornos de ansiedade, no transtorno obsessivo-compulsivo e em diversas outras condições, quando associadas a sintomas depressivos. É um grupo bastante heterogêneo, dentro do qual estão substâncias com mecanismos de ação bastante distintos. Apesar disso, existem alguns pontos-chave que se aplicam a todo o grupo, e é importante conhecermos tais pontos antes de iniciar um tratamento com um antidepressivo.

 

Quanto tempo irá durar o tratamento?

Um primeiro episódio de depressão deve ser tratado por, no mínimo, seis a nove meses. Esse tempo passa a contar a partir do momento em que houve melhora completa dos sintomas. Assim, se uma pessoa melhorou depois de seis meses tomando um antidepressivo, ela deve mantê-lo por mais seis a nove meses, resultando num tempo total de tratamento de um ano até um ano e três meses.

E por que isso acontece? Porque a chance de recorrência dos sintomas aumenta caso a medicação seja interrompida antes desse tempo. A depressão é um transtorno com alta taxa de recorrência, e essa taxa aumenta a cada novo episódio. Pessoas que tiveram vários desses episódios podem necessitar de tratamento por um tempo maior, às vezes por alguns anos.

 

Os antidepressivos perdem eficácia ao longo do tempo?

Não. Se um antidepressivo foi eficaz para uma determinada pessoa – isto é, se contribuiu para que houvesse melhora completa dos sintomas –, ele deve ser continuado na mesma dose que vinha sendo usada, durante o tempo de tratamento adequado (seis a nove meses ou, no caso de múltiplos episódios depressivos, por um tempo maior, como vimos acima). Assim, não é necessário trocar o antidepressivo só porque ele vem sendo usado há algum tempo.

Situação diferente acontece quando uma pessoa não melhorou completamente com um determinado antidepressivo, mas continuou a tomá-lo. A persistência de alguns sintomas mostra que a depressão não foi adequadamente tratada e continuou evoluindo ao longo do tempo, de forma que aquele antidepressivo usado inicialmente pode não mais funcionar (veja a diferença: não foi o medicamento que perdeu eficácia, mas o transtorno que ficou mais grave). Nesse caso, poderá ser necessário um ajuste da dose ou, de fato, a troca do antidepressivo.

 

Os antidepressivos viciam?

Não. Esse é um dos principais mitos que fazem com que as pessoas não tomem (ou deixem de tomar) um antidepressivo, mesmo tendo recebido um diagnóstico de depressão. Além de não causarem dependência, esses medicamentos são efetivos e aumentam muito as chances de uma pessoa ficar bem.

Apesar de os antidepressivos não viciarem, podem acontecer reações desagradáveis se eles forem suspendidos abruptamente. Essas reações são chamadas de síndrome de descontinuação e realmente podem parecer a síndrome de abstinência que ocorre com as drogas de abuso (talvez um dos motivos de as pessoas pensarem que os antidepressivos viciam). Além disso, a suspensão abrupta aumenta o risco de retorno dos sintomas depressivos. Assim, todo antidepressivo deve ser suspendido no tempo coreto e gradualmente, sob a supervisão de um Psiquiatra ou outro profissional médico.

 

Os antidepressivos deixam sequelas?

Não. Em geral, os efeitos adversos dos antidepressivos aparecem logo nos primeiros dias de uso e tendem a desaparecer após uma ou duas semanas. Se eles forem intoleráveis, é importante conversar com o profissional que prescreveu para que seja encontrada uma outra opção. Eventuais efeitos percebidos no longo prazo – como esquecimento ou dificuldade de concentração – são muito mais frequentemente resultado da depressão ainda não adequadamente tratada do que do antidepressivo em si.

Autor

Dr Rafael de Castro Resende

Dr Rafael de Castro Resende

Acupunturista, Psiquiatra

Especialização em Residência Médica em Psiquiatria no(a) Hospital Ulysses Pernambucano - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco).