Publicado por Rafael Resende
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Acupuntura ajuda na concentração?

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Na Medicina Tradicional Chinesa, a concentração depende de três sistemas de Órgãos Internos e suas respectivas faculdades psíquicas: Coração, sede da Mente; Fígado, que abriga a Alma Etérea; e Baço-Pâncreas, que está associado ao Intelecto. Cada uma dessas faculdades tem funções específicas, cujo desequilíbrio pode levar a quadros semelhantes ao que chamamos, no mundo ocidental, de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH).

A Mente é responsável pelo controle e pela integração geral. Dela dependem o pensamento, a memória, as emoções, a inteligência... enfim, nossas funções psíquicas como um todo. Num quadro de TDAH, independentemente do subtipo, a Mente sem dúvidas estará acometida.

A Alma Etérea, por sua vez, é responsável pelas nossas ideias e planos, pela inspiração e pela criatividade. Por causa disso, ela tem a característica de estar sempre em busca de algo e, assim, está sempre em movimento. Quando há excesso desse movimento, a pessoa tem dificuldade em se concentrar em uma coisa de cada vez. O quadro seria equivalente ao TDAH de apresentação predominantemente hiperativa e impulsiva.

Por fim, temos o Intelecto. Ele é mais diretamente responsável pelo foco, pela concentração e pela capacidade de a gente se dedicar a uma determinada tarefa. Esse caso se aproxima mais do subtipo desatento de TDAH.

Um desequilíbrio em quaisquer dessas faculdades psíquicas pode resultar em dificuldade de concentração. A Medicina Tradicional Chinesa lista diferentes causas para tais desequilíbrios, incluindo herança genética, alimentação inadequada, estresse emocional e fatores associados à gestação e ao parto – como uso de álcool e tabaco pela mãe e trabalho de parto prolongado ou traumático.

Todo esse raciocínio tem algumas consequências interessantes. Em primeiro lugar, o tratamento das dificuldades de concentração através da Acupuntura deve focar nas três faculdades mentais citadas e em seus respectivos Órgãos Internos: Coração, Fígado e Baço-Pâncreas. Além disso, a escolha dos pontos de Acupuntura também deve considerar o padrão de desarmonia específico de cada paciente.

Uma segunda implicação diz respeito às funções da Alma Etérea, que, como já dito, é responsável pela inspiração e está sempre em movimento. Quando suas funções estão em excesso, a inquietação e agitação psicomotoras – a hiperatividade – podem se acompanhar de um maior trabalho criativo. Não é à toa que muitas crianças com TDAH tenham inclinações para a arte, e que muitos artistas convivam com o transtorno.

Uma terceira e última consequência tem a ver com o fato de a emoção associada ao Fígado (e à Alma Etérea) ser a raiva. Quando há comprometimento das funções do Fígado, levando à dificuldade de concentração e hiperatividade, poderá haver também maior irritabilidade. Daí a impressão de que certas crianças com TDAH são confrontadoras, “difíceis” (o que, do ponto de vista da Medicina Ocidental, tem a ver com a grande coexistência do diagnóstico de TDAH com o transtorno opositor-desafiador, muito prevalente na infância e adolescência).

Por fim, é preciso lembrar que ainda não temos evidências científicas suficientes para recomendar que o tratamento do TDAH seja feito somente com Acupuntura. Se usada, ela deve ser complementar aos tratamentos de primeira linha – intervenções comportamentais e psicológicas e uso de medicações psicoestimulantes.

Autor

Dr Rafael de Castro Resende

Dr Rafael de Castro Resende

Acupunturista, Psiquiatra

Especialização em Residência Médica em Psiquiatria no(a) Hospital Ulysses Pernambucano - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco).